Manaus, 26 de dezembro de 2024

Em comunidades agrícolas com administração coletiva em Israel, um pesadelo se tornou realidade. Be’eri, Kfar Aza, Re’im – todos esses são kibutzim, ou seja, comunidades agrícolas com administração coletiva. Nas imediações da Faixa de Gaza, esses locais foram palco de eventos inimagináveis: tomadas de reféns, sequestros e assassinatos, perpetrados pelo grupo terrorista islâmico Hamas.

No último sábado (7/10), terroristas cruzaram a fronteira com Israel nas primeiras horas do dia. Suas ações resultaram em sequestros, ferimentos e mortes de civis e soldados israelenses. Micky Drill, gerente de projetos da Fundação Friedrich Ebert, que trabalha em Israel há anos, descreve a situação como uma “catástrofe que ainda não acabou”. Há relatos de confrontos em kibutzim, como o Magen, localizado a apenas quatro quilômetros da fronteira com a Faixa de Gaza.

O sul de Israel, na fronteira com a Faixa de Gaza, é uma região predominantemente rural, com uma presença significativa dessas comunidades, algumas com 400 habitantes, outras com até 800. Esses kibutzim existem há mais de 100 anos, anteriores à fundação do Estado de Israel em 1948. Alguns também estão localizados na Cisjordânia, ocupada por Israel, e nas Colinas de Golã, território anexado por Israel.

Embora muitos kibutzim tenham sido privatizados e apenas 4% da população israelense viva neles atualmente, eles ainda desempenham um papel importante na produção agrícola do país.

O sul de Israel se tornou popular nos últimos anos, apesar das constantes ameaças de ataques de mísseis. Drill explica que o movimento kibutz está em ascensão e é muito popular na região, que é composta em grande parte por essas comunidades. Ele enfatiza que essas comunidades oferecem um padrão de vida diferente do das cidades, com forte conexão com a natureza.

Os residentes da região se acostumaram ao longo do tempo com os alertas antimísseis frequentes, às vezes tendo apenas 15 segundos para buscar abrigo. No entanto, o ataque atual representa uma ameaça muito diferente e aterrorizante.

Relatos indicam que cerca de 300 militantes do Hamas entraram em Israel nas primeiras horas da manhã de sábado. Vídeos nas redes sociais mostram cenas chocantes de civis mortos, edifícios em chamas e reféns em situações de risco.

Esse evento é comparado por alguns como o “11 de Setembro” de Israel, uma tragédia que abalou o país. Para os moradores dos kibutzim, representa também uma quebra significativa de confiança, inclusive em relação ao Exército e ao governo de Israel, que argumentaram que a população estava segura graças aos sistemas de defesa antimísseis e à desativação de túneis.

Além disso, a maioria dos habitantes dos kibutzim tradicionalmente tem orientações políticas de esquerda, e poucos teriam votado no governo atual. A decepção com a resposta das Forças Armadas e do governo é palpável.

Muitos se lembram de uma época em que a Faixa de Gaza era mais aberta, permitindo que os moradores dos kibutzim se deslocassem livremente. Agora, a decepção com o governo e as Forças Armadas é evidente, pois levou muito tempo para a chegada dos militares ao local e os próprios moradores tiveram que se defender dos terroristas.

No kibutz Be’eri, quase 50 pessoas foram mantidas como reféns por horas até que o exército conseguisse resgatá-las. Os terroristas demonstraram conhecimento detalhado das vulnerabilidades dos kibutzim.

Um dos líderes regionais e porta-vozes mais proeminentes do kibutz Kfar Aza, Ofir Liebstein, foi uma das primeiras e mais notáveis vítimas dos ataques de 7 de outubro. Liebstein frequentemente defendia a paz, mas descrevia a vida na fronteira como “99% paraíso e 1% inferno”, um inferno que agora se tornou realidade.