O número que consta no relatório diário da situação das Nações Unidas é três vezes superior às estimativas do dia anterior e pode indicar que está a aumentar a deslocação de pessoas, principalmente de crianças, idosos e pessoas com deficiência, de acordo com dados do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU.
“Estão a chegar a pé, com poucos pertences”, disse a ONU, acrescentando que algumas destas pessoas deslocadas testemunharam detenções pelas forças israelitas nos postos de controlo de evacuação.
O número de deslocados em Gaza ultrapassa 1,5 milhões (mais de dois terços de uma população de 2,2 milhões), dos quais 725.000 estão alojados em instalações da ONU, 122.000 em hospitais, igrejas e outros edifícios públicos, 131.000 em escolas não pertencentes à ONU e os restantes em casa de familiares.
Cerca de 160.000 dos deslocados permanecem em abrigos no norte de Gaza, a área mais afetada pelos combates, onde a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) já não consegue chegar com ajuda humanitária ou ter informações sobre a situação, sublinhou o relatório.
A ONU insiste que muitos dos deslocados se encontram em condições de sobrelotação: a situação é particularmente alarmante nas instalações em Khan Younis (sul de Gaza), onde 22.000 refugiados têm apenas dois metros quadrados de espaço cada um e há apenas uma casa de banho para cada 600 pessoas.
O relatório voltou a denunciar os ataques nas imediações dos centros médicos, que ocorreram na terça-feira junto ao Hospital Indonésio e ao Kamal Odwan, ambos no norte de Gaza, causando vários mortos e danos em edifícios e equipamentos.
A ONU sublinhou que as autoridades israelitas continuam a ordenar a evacuação do Hospital de Rantisi, na capital de Gaza, a única unidade pediátrica no norte da Faixa, onde estão abrigadas 6.000 pessoas deslocadas.
O Ministério da Saúde de Gaza afirmou que a evacuação do hospital coloca em risco a vida de dezenas de crianças, incluindo 38 que necessitam de diálise e 10 que estão ligadas a ventiladores.
“Os hospitais do norte estão a realizar operações complexas, incluindo amputações, sem anestesia”, afirmou a ONU, para ilustrar a situação desesperada no território.
Pelo menos 192 profissionais de saúde morreram no conflito que começou há um mês, incluindo 16 que estavam em serviço, enquanto o número de funcionários da ONU mortos (empregados pela UNRWA) subiu para 89, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Em 07 de outubro, o movimento islamita Hamas lançou um ataque surpresa contra o sul de Israel com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados, fazendo duas centenas de reféns.
Em resposta, Israel declarou guerra ao Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e é classificado como terrorista pela UE e pelos Estados Unidos, bombardeando várias infraestruturas do grupo em Gaza e impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.
O conflito já provocou milhares de mortos e feridos, entre militares e civis, nos dois territórios.
Fonte: Agência Brasil