O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Gilberto Cunha, alertou que a atual onda de calor, associada a um menor volume de chuvas devido ao fenômeno El Niño, está impactando adversamente duas das principais culturas agrícolas do Brasil: soja e milho. Entrevista foi dada na CNN Brasil.
Cunha explicou que o El Niño está gerando incertezas entre os produtores sobre o momento adequado para o plantio da soja, e esse atraso tem efeitos indiretos sobre o milho de segunda safra, plantado após a colheita da soja no final do verão.
“Quanto mais atrasado o plantio da soja, maior é a vulnerabilidade do milho aos riscos de problemas relacionados à seca. A agricultura brasileira está sofrendo esses impactos negativos”, destacou.
Temperaturas elevadas e clima seco são uma realidade em grande parte do Brasil, exceto no Sul, que enfrenta uma situação oposta. A região está sendo impactada por chuvas acima da média, causando efeitos negativos em algumas culturas, como o trigo, conforme explicou Felippe Serigati, pesquisador da FGV Agro. A baixa luminosidade e a alta irrigação podem comprometer a qualidade da safra, levando o produto a ser destinado ao consumo animal, em vez de humano.
Por outro lado, Gilberto Cunha sugere que a situação pode beneficiar a produção de soja e milho nas regiões situadas abaixo do estado do Paraná.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou seu primeiro prognóstico para a safra de 2024, estimando 308,5 milhões de toneladas em grãos, cereais e leguminosas. Caso se confirme, a produção será 2,8% inferior à deste ano.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados e consultor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), apontou uma relação entre essa queda e os impactos do El Niño, afirmando que “certamente as questões climáticas, o El Niño, podem atrapalhar a safra. Estaremos longe do crescimento muito forte que tivemos neste ano”.