Manaus, 22 de outubro de 2024

Motoristas de automóveis e entregadores que trabalham por meio de aplicativos estão enfrentando jornadas mais longas, menor contribuição previdenciária e uma forte queda na renda média. Essas conclusões são parte de um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), divulgado na terça-feira em Brasília.

Entre 2012 e 2015, o número de motoristas autônomos no setor de transporte de passageiros (excluindo mototaxistas) era de cerca de 400 mil, com um rendimento médio de aproximadamente R$ 3,1 mil. Em 2022, o número de pessoas nessa atividade saltou para 1 milhão, mas os ganhos médios caíram para menos de R$ 2,4 mil.

O estudo também mostra que a proporção de motoristas com jornadas entre 49 e 60 horas semanais aumentou de 21,8% em 2012 para 27,3% em 2022, um aumento que não ocorreu entre os trabalhadores autônomos em geral.

Outro indicador de precarização apontado pelo estudo é a cobertura previdenciária. Em 2015, quase metade dos motoristas de passageiros (47,8%) contribuía com o INSS, número que caiu para 24,8% em 2022.

Situação dos Entregadores

A situação dos entregadores de plataformas, como motociclistas e ciclistas, também foi analisada pelo Ipea. Em 2015, havia 56 mil trabalhadores nesse setor no Brasil, com uma renda média de R$ 2,250 mil. Em 2021, o número de entregadores subiu para 366 mil, mas a renda média caiu para R$ 1,650 mil.

Após 2018, houve uma redução na proporção de trabalhadores com jornadas entre 40 e 44 horas semanais e um aumento na quantidade daqueles que trabalhavam mais de 49 horas semanais. A contribuição previdenciária dos entregadores informais também diminuiu. Entre 2012 e 2018, 31,1% contribuíam para o INSS, enquanto de 2019 a 2022, essa média caiu para 23,1%.

Precarização Evidente

O estudo conclui que “o modelo de trabalho ‘plataformizado’ se baseia em um vetor de precarização, representando, por um lado, menores patamares de renda, formalização e contribuição previdenciária, e, por outro, maiores jornadas semanais de trabalho”. Segundo os autores do estudo, Sandro Sacchet e Mauro Oddo, técnicos de planejamento e pesquisa do Ipea, apesar dos dados demonstrarem essa precarização, muitos trabalhadores ainda veem a si mesmos como “empreendedores de si mesmos”.

O estudo, intitulado “Plataformização e Precarização do Trabalho de Motoristas e Entregadores no Brasil”, faz parte da 77ª edição do Boletim Mercado de Trabalho do Ipea.