Manaus, 22 de outubro de 2024

Os sindicatos de agricultores, não satisfeitos com as concessões oferecidas pelo governo do presidente Emmanuel Macron, encorajaram seus afiliados a lutar por rendimentos mais elevados, menos burocracia e proteção contra a concorrência estrangeira.

“Estou muito orgulhoso de vocês”, disse Serge Bousquet-Cassagne, chefe da Câmara de Agricultura no sudoeste do departamento de Lot-et-Garonne, aos manifestantes que se dirigiam ao mercado atacadista de Rungis, ao sul de Paris, o maior centro de distribuição de alimentos da Europa.

 “Vocês estão travando esta batalha porque se não lutarmos, morreremos”, disse ele.

O governo alertou os agricultores para se manterem afastados de Rungis e das grandes cidades. O ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, que até agora ordenou à polícia que agisse com cautela, alterou o discurso, dizendo que os agentes estavam prontos para defender pontos estratégicos.

“Eles não podem atacar a polícia, não podem entrar em Rungis, não podem entrar nos aeroportos de Paris ou no centro de Paris”, disse Darmanin à televisão France 2. “Se eles tentarem, estaremos lá”, acrescentou.

Apesar do aviso, um comboio de tratores que partiu do sudoeste do país retomou nesta quarta-feira a viagem em direção a Rungis, depois de passar a noite em fazendas ao longo do caminho, disseram repórteres da AFP.

A polícia prendeu 18 pessoas perto de Rungis por “interferir no trânsito”, disse uma fonte policial.

Unidades policiais com veículos blindados foram posicionadas ao longo da autoestrada A6 que conduz ao mercado de alimentos, em antecipação à chegada do comboio, e foram criados postos de controle policial nos pontos de acesso ao mercado.

O governo tem lutado para oferecer concessões, com o recém-empossado primeiro-ministro Gabriel Attal dizendo ao parlamento na terça-feira que o seu governo estava pronto para resolver a crise, elogiando o setor agrícola como “a nossa força e o nosso orgulho”.

Concessões insuficientes

Nesta quarta-feira, o ministro francês das Finanças, Bruno Le Maire, prometeu que a França impediria que um acordo comercial entre a União Europeia e o bloco sul-americano do Mercosul – uma queixa importante para os manifestantes – fosse assinado no seu estado atual.

Ele também disse que haveria uma vigilância mais estreita das plataformas europeias de comércio de alimentos para garantir que “o rendimento dos agricultores não seja a primeira coisa a ser sacrificada nas negociações comerciais”.

Mas os agricultores disseram que as promessas, incluindo garantias de pagamentos mais elevados no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC) da UE, não foram suficientes.

“Várias dessas medidas levarão três ou quatro anos para serem implementadas”, disse Johanna Trau, uma produtora de cereais e gado de Ebersheim, na Alsácia, leste de França. “Só vou acreditar quando ver.”

A França é o maior beneficiário dos subsídios agrícolas da UE, recebendo mais de € 9 bilhões (mais de R$ 48 bilhões) todos os anos.

Antes o maior exportador agrícola do bloco, é agora o terceiro, atrás dos Países Baixos e da Alemanha.

Darmanin disse que havia 10 mil agricultores protestando nas estradas francesas nesta quarta-feira, bloqueando 100 pontos ao longo das principais estradas.

Além de avançarem sobre Paris, os comboios também tentavam cercar Lyon, a terceira maior cidade da França.

Em Toulouse, no sudoeste, agricultores que protestavam também tentaram bloquear o mercado atacadista local de alimentos, mas foram removidos pela polícia.

O movimento dos agricultores tem aumentado em toda a Europa, com os agricultores espanhóis afirmando na véspera que se juntariam aos protestos dos seus colegas franceses, alemães, polacos, romenos, belgas e italianos.