As enchentes catastróficas que assolam o Rio Grande do Sul, resultando em dezenas de mortes e desaparecimentos, ecoam como um sinal alarmante para uma crise iminente em outra parte do país: uma seca severa nos rios amazônicos, prevista para o segundo semestre deste ano.
“É um alerta para todos os responsáveis pelas políticas públicas, e uma condenação ao negacionismo que desafia a ciência. O aviso foi dado há décadas, inclusive na Rio 92, e agora é uma realidade”, adverte Rogério de Jesus, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Ele destaca os impactos devastadores da seca do ano passado no Amazonas, com municípios isolados e escassez de alimentos e água potável. Com a previsão de mais uma seca neste ano, os temores de uma crise humanitária se intensificam, ameaçando a segurança alimentar e o abastecimento em toda a região.
Marcos Castro, professor de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), ressalta a relação entre as chuvas no Sul e a seca na Amazônia, resultante do fenômeno El Niño que causa um bloqueio das frentes frias no Norte, levando à redução das chuvas e à seca.
Apesar dos alertas, as autoridades brasileiras ainda não reconheceram a gravidade do problema, argumenta Castro. Ele enfatiza a necessidade urgente de medidas como a gestão do solo, sistemas de drenagem e mapeamento de áreas de risco para enfrentar os desafios iminentes.
Em resposta à crescente preocupação, o governador do Amazonas, Wilson Lima, convocou uma reunião de emergência com a Defesa Civil e secretários estaduais para coordenar esforços de enfrentamento aos efeitos da seca.
O governo estadual tem buscado apoio do governo federal para antecipar ações mitigatórias, consciente dos impactos iminentes na economia e no meio ambiente, incluindo desmatamento e queimadas.
O alerta sobre a seca deste ano nasceu da experiência do ano passado, quando já se previa uma crise similar ou pior. A Defesa Civil do Amazonas tem se reunido com autoridades desde janeiro para preparar uma resposta eficaz diante da iminente escassez hídrica.
Com os rios amazônicos já abaixo dos níveis normais, a possibilidade de uma seca severa é cada vez mais real, destacam especialistas. Enquanto o El Niño enfraquece, a possibilidade de um La Niña aumenta, trazendo consigo o potencial de chuvas intensas, mas ainda incerto quanto à sua eficácia para aliviar a seca iminente.