Manaus, 21 de novembro de 2024

Na última terça-feira, 15 de outubro, o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) causou polêmica ao orar pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante um evento no Palácio do Planalto. A atitude do ex-aliado de Jair Bolsonaro dividiu a bancada evangélica, gerando reações diversas entre os membros do segmento religioso no Congresso Nacional.

O ato ocorreu durante a sanção da lei que institui o Dia da Música Gospel, celebrado em 9 de junho, uma proposição do deputado Raimundo Santos (PSD-PA). Silas Câmara (Republicanos-AM), líder da Frente Parlamentar Evangélica, destacou que Otoni foi ao Planalto a seu pedido e minimizou a importância da oração. “Não é um gesto isolado, é uma agenda que está ligada aos nossos interesses. O deputado Otoni de Paula, a meu pedido, estava lá para representar a nossa luta no Congresso”, afirmou Câmara.

A nova lei, aprovada sem dificuldades pelo Legislativo, reflete a tentativa de melhorar as relações entre a bancada evangélica e o governo Lula, que conta com 15 representantes evangélicos. Durante o evento, Otoni de Paula expressou sua gratidão ao presidente pela sanção da lei, enfatizando que os evangélicos “não têm dono”. “Nossas escolhas são pautadas em crenças e valores. Não temos um dono, senhor presidente. Somos um corpo plural em nossa visão de mundo a partir do nosso entendimento das santas escrituras”, disse o deputado, também relembrando a importância da Lei de Liberdade Religiosa sancionada por Lula em seu primeiro governo.

No entanto, a aproximação de Otoni com o presidente gerou descontentamento entre outros líderes evangélicos. O pastor Silas Malafaia, conhecido por suas posições conservadoras, criticou duramente a atitude do deputado e a presença de outros colegas religiosos no evento. Malafaia afirmou que os gestos de Lula não atendem às demandas do segmento evangélico e que a sanção da nova lei seria apenas um “agrado” ao invés de um compromisso genuíno.

“Essa sanção é uma balinha a favor do petista, diante de um almoço e uma janta completa contra. No primeiro mês de governo, a ministra da Saúde derrubou várias portarias que dificultavam o aborto e tirou o Brasil da aliança das nações contra o aborto”, destacou Malafaia, sinalizando sua indignação com as políticas do governo.

Ele ainda acrescentou que a aproximação de alguns membros da bancada com Lula não representa o sentimento da maioria. “Que bancada evangélica vai se aproximar de Lula? Alguns podem se aproximar, mas a massa não vai. O gesto do Otoni acontece porque ele quer jogar para os dois lados, ele quer dar uma de Bolsonaro, mas está queimado do lado de cá”, afirmou o pastor, reforçando a divisão entre os membros da bancada.