Manaus, 22 de agosto de 2025

O governo comunista da China fez um alerta nesta quinta-feira (21) em resposta às crescentes tensões entre os Estados Unidos, liderados por Donald Trump, e a Venezuela, presidida por Nicolás Maduro. Em comunicado oficial, a chancelaria chinesa afirmou que se opõe a qualquer forma de ingerência externa nos assuntos internos do país vizinho, bem como ao uso da força como ferramenta política.

Foto: Agencias / David Maris / Univision

“Nos opomos ao uso ou à ameaça de força nas relações internacionais e à interferência externa nos assuntos internos da Venezuela sob qualquer pretexto”, declarou Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China. A representante acrescentou ainda que Pequim espera que os Estados Unidos atuem em prol da paz e da segurança na América Latina e no Caribe, e não como fator de instabilidade.

A manifestação ocorre dias após o governo norte-americano intensificar sua postura contra Maduro, enviando três navios de guerra para as proximidades do território venezuelano. Estima-se que cerca de 4 mil militares estejam a bordo das embarcações. Apesar da demonstração de força, o Pentágono ainda não detalhou oficialmente se a movimentação faz parte de operações contra cartéis de drogas ou se representa uma possível escalada militar contra o governo chavista.

Rivalidade política e acusações

Nicolás Maduro é constantemente alvo de críticas internacionais sobre a legitimidade de seu governo. Diversos países questionam a transparência das últimas eleições na Venezuela, apontando indícios de fraude. Tanto Donald Trump quanto seu antecessor, Joe Biden, reconheceram o opositor Edmundo González como vencedor do pleito.

Os Estados Unidos também acusam Maduro de chefiar o cartel de Los Soles, uma rede criminosa apontada como responsável pelo tráfico de cocaína em larga escala. Em 2020, o Departamento de Justiça norte-americano chegou a oferecer recompensa de US$ 50 milhões por informações que levassem à captura do presidente venezuelano.

A administração Trump ainda reforçou o combate ao narcotráfico ao classificar cartéis de drogas como organizações terroristas. Na prática, essa mudança jurídica abre espaço para que as Forças Armadas dos EUA atuem fora de suas fronteiras sob a justificativa de combater o terrorismo, o que eleva o risco de operações militares diretas em países da América Latina.

Pequim x Washington

O alerta chinês deve ser lido dentro de um contexto mais amplo de rivalidade geopolítica. Para a China, a América Latina é uma região estratégica tanto em termos de investimentos econômicos quanto de alianças políticas. Empresas chinesas mantêm fortes vínculos comerciais com países da região, especialmente na exploração de petróleo e em obras de infraestrutura. A instabilidade na Venezuela preocupa diretamente Pequim, que enxerga no país um aliado histórico.

Ao se posicionar contra a pressão militar norte-americana, a China reforça seu discurso de respeito à soberania nacional, princípio que costuma evocar em situações de disputas internacionais. O gesto também sinaliza um apoio tácito ao regime de Maduro, ainda que sem endossar suas práticas internas.

Publicidade

Riscos para a região

Especialistas em relações internacionais avaliam que a escalada das tensões aumenta os riscos de instabilidade em toda a América Latina. A presença militar dos EUA tão próxima à Venezuela pode gerar incidentes, e uma eventual ação armada teria impactos profundos não apenas na política local, mas também nas cadeias econômicas e migratórias da região.

Atualmente, milhões de venezuelanos vivem como refugiados em países vizinhos devido à crise econômica e social que atinge o país. Uma intervenção militar agravaria esse cenário e ampliaria o fluxo migratório, pressionando nações como Colômbia e Brasil.

Por outro lado, o governo Trump aposta no endurecimento contra Maduro como uma forma de consolidar apoio interno e mostrar firmeza diante do que considera regimes hostis. A narrativa de “guerra ao terror”, agora aplicada ao narcotráfico, fortalece o discurso de que os EUA precisam agir preventivamente contra ameaças em seu “quintal estratégico”.

O futuro das tensões

Ainda não está claro até onde os Estados Unidos pretendem avançar. A movimentação de navios pode ser interpretada como um recado político, mas também pode sinalizar o início de uma nova etapa de pressões militares. O alerta da China, por sua vez, reforça que a disputa não se limita ao eixo Washington-Caracas, mas insere a América Latina no tabuleiro global da rivalidade entre as grandes potências.

Enquanto isso, Maduro segue isolado no cenário internacional, mas ainda sustentado pelo apoio de aliados como China, Rússia e Irã. A crise venezuelana, longe de uma solução, permanece como um dos principais focos de instabilidade da região — agora com o risco de se transformar em palco de um novo confronto geopolítico.

Visão geral da privacidade

Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.