Manaus, 22 de outubro de 2024

Um estudo realizado por pesquisadores da Áustria oferece novas perspectivas no tratamento do câncer de colo de útero, mostrando que mulheres que mantêm uma vida sexual ativa ou utilizam a dilatação vaginal após a quimiorradiação têm menos chances de enfrentar efeitos colaterais a longo prazo.

A principal autora do estudo, Kathrin Kirchheiner, psicóloga clínica do departamento de radioterapia oncológica da Universidade Médica de Viena, enfatiza que a prioridade sempre será a cura do câncer de colo de útero, mas a prevenção e o tratamento dos efeitos colaterais são igualmente cruciais. Os resultados desta pesquisa foram apresentados na Reunião Anual da American Society for Radiation Oncology (ASTRO) realizada em 2 de outubro.

O câncer de colo de útero é uma das formas mais comuns de câncer entre as mulheres, geralmente diagnosticado por volta dos 50 anos. O tratamento padrão para pacientes com a doença localmente avançada envolve radioterapia, quimioterapia e braquiterapia.

Nos últimos anos, avanços na braquiterapia, incluindo o uso de ressonância magnética para identificação precisa do tumor e administração precisa de radiação, melhoraram significativamente as taxas de cura. No entanto, altas doses de radiação próximas à vagina podem causar estenose vaginal (estreitamento da vagina) e alterações de longo prazo no tecido da região, dificultando exames ginecológicos e causando desconforto durante o sexo.

Embora a dilatação vaginal regular seja frequentemente recomendada pelos médicos para mitigar esses efeitos e prevenir a formação de tecido cicatricial, havia poucos estudos quantitativos sobre o impacto dessa prática.

A pesquisa EMBRACE envolveu 1.416 mulheres com câncer de colo de útero localmente avançado, das quais 882 participantes foram analisadas para comparar os efeitos colaterais em pessoas sexualmente ativas ou que utilizavam a dilatação vaginal regularmente nos anos após o tratamento, em comparação com aquelas que não seguiam essa rotina.

Ao longo dos cinco primeiros anos após o tratamento, as pacientes passaram por uma média de 11 consultas de acompanhamento com exames ginecológicos para avaliar os efeitos colaterais vaginais e preencheram questionários sobre qualidade de vida, atividade sexual e dilatação vaginal.

Os resultados mostraram que a dilatação vaginal regular e/ou atividade sexual estavam significativamente associadas a um menor risco de estenose vaginal de grau 2 ou superior. Pacientes que relataram fazer a dilatação vaginal e mantiveram a atividade sexual tiveram o menor risco de estenose vaginal de grau dois (18%). Em contrapartida, pacientes que não praticavam dilatação ou relações sexuais regulares tinham maior probabilidade de apresentar estenose moderada (37%).

Kathrin ressalta que efeitos secundários menores, como secura vaginal e sangramento leve, podem ser controlados com medidas simples, como lubrificantes e terapia de reposição hormonal. Ela enfatiza que os benefícios da atividade sexual e da dilatação vaginal superam os riscos menores e devem ser incentivados. Além disso, destaca a importância de futuras pesquisas sobre o papel da excitação sexual na cicatrização dos tecidos e na saúde vaginal.

A pesquisa sobre saúde sexual após o tratamento do câncer pode ser delicada, envolvendo questões pessoais e sensíveis. Portanto, abordar o tópico com respeito e compreensão é essencial tanto na pesquisa quanto no atendimento aos pacientes.