Manaus, 21 de novembro de 2024

Na última quinta-feira (3), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) decidiu condenar o ator Luís Miranda a pagar uma indenização de R$ 35 mil ao humorista Marcius Melhem por danos morais. A decisão surge em meio a um contexto delicado de acusações de assédio sexual que envolvem Melhem, que é réu na Justiça fluminense por assédio sexual e enfrenta também denúncias de perseguição psicológica e violência contra mulheres.

A condenação se baseou em uma entrevista concedida por Miranda, na qual ele afirmou ter presenciado episódios de assédio de Melhem contra a humorista Dani Calabresa. O juiz Guilherme Pedrosa Lopes, responsável pelo caso, argumentou que as declarações de Miranda ultrapassaram os limites da liberdade de expressão e se caracterizaram como ofensas diretas ao autor da ação. Em sua decisão, o magistrado destacou que o ator se referiu a Melhem com termos pejorativos, como “covarde”, “machista” e “taradão”.

“Miranda faz o uso de adjetivos com valor pejorativo, com destaque a fatos ofensivos relacionados à conduta típica penal de assédio, que revelam somente a intenção de ofender o autor, como pessoa e como profissional”, escreveu o juiz, determinando que Miranda deveria ser responsabilizado financeiramente pelas suas palavras.

As acusações contra Melhem começaram a ganhar notoriedade em março de 2023, quando uma coluna de jornal publicou uma entrevista com várias mulheres que acusavam o humorista de assédio sexual e moral. O grupo, composto por 11 integrantes do setor de humor da TV Globo, compartilhou suas experiências, lançando luz sobre uma cultura de impunidade e silenciamento em um ambiente que deveria ser seguro para todos.

Na sequência, o diretor do programa “Zorra”, Maurício Farias, também se manifestou, afirmando que muitas das alegações de Melhem eram mentirosas. Em contrapartida, Melhem negou todas as acusações e se definiu como alvo de uma campanha de vingança. Essa narrativa de defesa se fortaleceu com o processo judicial que ele moveu contra Luís Miranda, inicialmente solicitando uma indenização de R$ 50 mil. Melhem alegou que as declarações de Miranda eram “frágeis, inverossímeis e contraditórias”, além de ter a intenção de denegrir sua imagem.

Luís Miranda, por sua vez, argumentou que o processo de Melhem era uma tentativa de silenciá-lo e intimidá-lo, afirmando que seu relato era uma forma de exercer seu direito de liberdade de expressão. Em sua defesa, o ator mencionou que a ação era uma repetição do “modus operandi” de Melhem, que teria sido utilizado contra outras pessoas.

A disputa judicial é emblemática e reflete um momento crítico na sociedade brasileira, onde questões de assédio sexual e abuso de poder estão sendo cada vez mais discutidas e denunciadas. O caso Melhem não é um fenômeno isolado; é parte de um movimento mais amplo que busca justiça e reconhecimento para as vítimas de assédio e violência de gênero.

Além da condenação em primeira instância, o cenário legal para Marcius Melhem se complica ainda mais. Em fevereiro deste ano, o Ministério Público de São Paulo o denunciou junto ao jornalista Ricardo Feltrin pelo crime de perseguição psicológica e violência psicológica. Melhem é réu em diversos processos que tratam de assédio sexual contra três mulheres que o denunciaram, o que intensifica a pressão sobre sua carreira e reputação.

Com a condenação de Luís Miranda, a Justiça começa a estabelecer um marco sobre a responsabilidade das figuras públicas em relação às suas declarações. A decisão levanta questionamentos sobre os limites da liberdade de expressão e a proteção dos direitos das vítimas de assédio.