Manaus, 22 de outubro de 2024

Pela primeira vez, uma equipe de pesquisadores identificou um grupo de células nervosas no cérebro diretamente ligadas à compulsão alimentar. Essas células, conhecidas como células VGAT, foram encontradas na região chamada substância cinzenta periaquedutal, localizada na base do cérebro. A descoberta, realizada por cientistas da Universidade da California em Los Angeles (UCLA) e da Universidade Federal do ABC (UFABC), abre caminho para potenciais tratamentos de transtornos alimentares, como a compulsão alimentar e a anorexia.

O estudo, publicado na revista Nature Communications, revela que as células VGAT, que utilizam o neurotransmissor GABA para regular a atividade neuronal, desempenham um papel crucial na regulação do comportamento alimentar. Inicialmente, os pesquisadores estavam investigando essas células com foco na ansiedade, mas ficaram surpresos ao descobrir sua conexão com a compulsão alimentar.

Durante os experimentos, os cientistas observaram que a ativação das células VGAT desencadeava uma busca frenética por alimentos, mesmo em animais saciados. Por outro lado, a inibição dessas células resultava em uma redução significativa no consumo de alimentos, mesmo em animais famintos.

Os resultados também indicaram que os animais pareciam desfrutar da estimulação das células VGAT, sugerindo que a compulsão alimentar pode estar associada a sensações positivas e prazerosas de recompensa. Além disso, os animais demonstraram disposição para superar obstáculos a fim de obter alimentos, o que ressalta a natureza compulsiva desse comportamento.

A técnica utilizada pelos pesquisadores, conhecida como optogenética, permitiu estimular seletivamente os neurônios VGAT por meio de estímulos luminosos. Isso proporcionou uma compreensão mais profunda do funcionamento dessas células e de seu impacto no comportamento alimentar.

Embora os estudos tenham sido realizados em camundongos, os pesquisadores acreditam que as descobertas podem ter implicações para os seres humanos. Experimentos anteriores sugerem que a área periaquedutal do cérebro tem funções semelhantes em humanos e roedores, o que indica a possibilidade de que a ativação dessas células possa induzir comportamentos alimentares compulsivos em humanos.

Os pesquisadores estão agora explorando novas áreas de pesquisa, incluindo a preferência alimentar dos animais estimulados, com o objetivo de entender melhor os mecanismos subjacentes aos transtornos alimentares. Essa descoberta representa um passo significativo na compreensão e no tratamento de condições como a compulsão alimentar e a anorexia, oferecendo esperança para milhões de pessoas afetadas por esses distúrbios.